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Pesquisador do NUPRIMA comenta discurso do líder do Hezbollah em homenagem aos mártires palestinos

Issam Menem


O Secretário-Geral do Hezbollah, Sayed Hassan Nasrallah, proferiu um discurso público em homenagem aos mártires palestinos e libaneses que sucumbiram em decorrência do conflito que eclodiu em 7 de outubro. Foi sem dúvida o pronunciamento mais aguardado dos últimos anos, considerando o potencial de impacto que o Hezbollah poderia gerar no conflito, levando-o a um nível maior de complexidade e destruição mútua.


Confira o discurso de Sayed Hassan Nasrallah:




Hassan Nasrallah inicia seu discurso recapitulando eventos prévios ao 7 de outubro, com o objetivo de demonstrar que os ataques do Hamas não foram fenômenos inesperados, mas sim uma resposta aos embates frequentes que ocorriam entre o Estado de Israel e as comunidades palestinas, especialmente em Jerusalém e na Cisjordânia.


Nasrallah aponta para a necessidade de desconstruir a narrativa da "imprensa hegemônica" de que este conflito tem um caráter regional com total protagonismo da República Islâmica do Irã. De acordo com o líder xiita, essa narrativa é uma estratégia para redirecionar o debate, a mídia e a opinião pública para o Irã, invisibilizando e emaranhando a justa agenda política local dos palestinos com outros conflitos regionais. Com ou sem apoio externo, Nasrallah legitima o empenho e o anseio dos palestinos, destacando o nível de resiliência daquela população que há décadas demanda um nível mínimo de dignidade, previsibilidade e perspectiva de vida.



[Hussein Malla/AP Photo]

Muitos analistas esperavam e projetavam que seria um pronunciamento público de declaração de guerra total a Israel. Isso não ocorreu. De acordo com Nasrallah, o grupo libanês está em guerra desde o início do conflito em Gaza. A resistência libanesa aproveitou a mobilização israelense no sul para destruir uma gigantesca rede de monitoramento do exército rival nas Fazendas de Shebaa, território libanês ocupado, assim como em toda a faixa fronteiriça, alvejando torres com sistemas de radar, centenas de câmeras de alta qualidade, sensores acústicos, equipamentos de inteligência, assim como blindados e combatentes.


Mais do que os prejuízos materiais, Nasrallah destacou como sua estratégia impactou psicologicamente o governo israelense e sua população. Com intervenções cirúrgicas e com um baixo nível de intensidade, o grupo libanês fragmentou as forças israelenses que, em geral, estavam concentradas nos acontecimentos de Gaza. De acordo com o clérigo, as operações do Hezbollah forçaram Israel a manter suas forças e até a enviar forças adicionais para a frente norte. Essa estratégia reduziu em grande parte as forças que seriam utilizadas para atacar Gaza. Os episódios na frente norte mobilizaram um terço do exército israelense, metade das capacidades navais, um quarto da força aérea, metade das forças de defesa antiaéreas e um terço das forças logísticas. Para além do campo militar, mais de quarenta vilarejos da Alta Galiléia foram evacuados, aumentando a pressão pública contra o governo local. Nas palavras de Nasrallah, essa dinâmica militar na fronteira libanesa produziu um "estado de ansiedade e medo" tanto em Tel Aviv como em Washington. O clérigo afirma que ao instigar esse estado emocional entre as lideranças do inimigo, alcançará dois fins: o primeiro é fazer com que o inimigo calcule cada um de seus passos em direção ao Líbano, e o segundo é fazer com que Israel reconsidere seu planejamento na ofensiva sobre Gaza. Historicamente, a dissuasão psicológica, produto da teoria da dissuasão, busca evitar conflitos criando um ambiente em que a agressão não seja atraente para os potenciais agressores.


Para além de Israel, os Estados Unidos ganharam destaque no pronunciamento por ser o “mentor” das catástrofes regionais, em particular por sua decisiva atuação nos bastidores do conflito, seja enviando seus poderosos porta-aviões para o Mediterrâneo, fornecendo parcela de seu arsenal, ou vetando resoluções de cessar-fogo no âmbito das grandes organizações internacionais.


Por fim, é importante destacar que o líder do Hezbollah não descartou entrar diretamente no conflito e pediu aos seus seguidores que continuem mobilizados para "qualquer alternativa" futura. O discurso como um todo aponta que o conflito na frente libanesa continuará em doses homeopáticas.

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