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Palestina - O conflito regional já é uma realidade


Apoiadores tribais dos Houthis do Iêmen agitam uma bandeira palestina e levantam suas armas durante um protesto contra os recentes ataques liderados pelos Estados Unidos a alvos dos Houthis, perto de Sanaa, Iêmen, em 14 de janeiro de 2024. Foto de Khaled Abdullah/REUTERS.



Issam Menem


O que outrora era apenas motivo de apreensão tornou-se agora uma faceta incontestável da realidade do Oriente Médio. Observo a materialização de um conflito regional descentralizado em diferentes polos que estão concatenados em rede pela resistência palestina e pelo cessar-fogo em Gaza. Sob uma análise geopolítica, é possível apontar que a crise na Faixa de Gaza emerge como o epicentro de uma força centrípeta, exercendo uma influência que atrai e conecta diversos elementos geopolíticos na região. Essa dinâmica, assemelhando-se a um núcleo que emite forças centrípetas, agrega tensões e interesses divergentes, consolidando a Faixa de Gaza como um ponto focal que molda e direciona as interações geopolíticas circundantes. Desde o início da crise de 7 de outubro de 2023, diferentes frentes e conflagrações militares emergiram, ou se aprofundaram, por todo o sudoeste asiático.


Para além de Gaza, é possível apontar múltiplos pontos críticos de segurança, com importantes repercussões internacionais que estão diretamente entrelaçados com os episódios de outubro. Ao norte da Galiléia, Israel e o Hezbollah protagonizam a mais intensa frente de batalha fora de Gaza. O movimento libanês demonstra um notável compromisso e engajamento militar com a resistência palestina e afirma que se manterá mobilizado até findarem os ataques em Gaza. A frente libanesa mobiliza uma importante parcela das forças armadas israelenses na fronteira norte.


Outro núcleo desta crise regional circunda o estreito de Bab Al-Mandab, no Iêmen. De valor inestimável para a logística internacional, o estreito separa os continentes da Ásia e África, ligando o mar Vermelho ao oceano Índico via golfo de Adém. Após remover Abd Rabbuh Mansur Al-Hadi da presidência, o movimento político-religioso Ansar-Allah exerce a autoridade não só do norte do país como da capital, Sanaa. O grupo iniciou uma série de ataques direcionados à Israel empregando mísseis de cruzeiro e munições vagantes (drones kamikazes). Para mais, estão sendo registrados inúmeras interceptações e ataques a embarcações comerciais estrangeiras que objetivam atravessar o estreito, em especial aqueles com destino à Israel ou de propriedade de membros da OTAN. Em resposta às atividades do movimento iemenita, os Estados Unidos constituíram uma força-tarefa naval com importante participação do Reino Unido para reestabelecer a segurança daquele corredor logístico internacional.


Na histórica Mesopotamia, grupos e movimentos militares não-estatais, em sua maioria com base na comunidade xiita, iniciaram uma série de ofensivas contra bases militares estadunidenses ainda operantes em território iraquiano. De acordo com o Military Times (2024), as tropas dos EUA foram atacadas 53 vezes no Iraque desde 17 de outubro de 2023. Do outro lado da fronteira, na Síria, os números são ainda mais surpreendentes totalizando 77 ataques contra os ocupantes norte-americanos.


O Irã, um dos pilares securitários dessa extensa rede de atores insatisfeitos e solidários à luta palestina, efetivou impactantes ataques ao empregar misseis balísticos de longo alcance contra o que afirmam ser estruturas de uso comum entre a agência de inteligência de Israel, Mossad, e das forças ocupantes em território iraquiano. Para mais, outro ataque foi efetivado contra grupos fundamentalistas rivais do governo iraniano operantes em território sírio. Analistas apontam que o ataque direcionado para a Síria pode ser compreendido como um recado direto à Israel ao evocar a capacidade dos mísseis balísticos iranianos de atingirem facilmente o território israelense em uma possível escalada.


Diante da complexidade e expansão do conflito no Oriente Médio, torna-se evidente que a crise na Faixa de Gaza não é apenas um evento regional isolado, mas sim um epicentro que irradia influências geopolíticas em diferentes direções. Essa rede intricada de eventos ressalta a interdependência das crises e conflitos no Oriente Médio, formando um panorama em que as ações em um ponto focal reverberam em vários outros. A resposta militar, as alianças e as estratégias adotadas pelos diversos atores regionais e globais demonstram a complexidade e a amplitude desse cenário.




REFERÊNCIA


MILITARY TIMES. Attacks on US troops in Iraq and Syria climb to 130. 2024. Disponível em: <https://www.militarytimes.com/news/your-military/2024/01/11/attacks-on-us-troops-in-iraq-and-syria-climb-to-130/> . Acesso em: 18/01/2024.

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